Wellington Sversut - Bauru - Brasil

Descartes - racionalismo

Existe algo de que não se possa duvidar?

Filosofia: das Ciências
Tema: o racionalismo
Filósofo: René Descartes (1596 – 1650)
Obra: Discurso do Método (1637)

Biografia

René Descartes (1596 – 1650), foi filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se, sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia, mas também obteve reconhecimento matemático posterior por sugerir a fusão da álgebra com a geometria, fato que gerou a geometria analítica e um sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por esses feitos ele teve um papel-chave na Revolução Científica influenciando o desenvolvimento por Leibniz e Newton do Cálculo moderno.

Habilidade: Ler de modo filosófico textos de diferentes estruturas e registros

O que é o real?

Fantástico - Ser ou Não Ser - Descartes - Viviane Mosé

Habilidade: ler textos filosóficos de modo significativo

Discurso do Método (1637)

Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas. Pois é insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam. (...)
E, como a grande quantidade de leis fornece, com frequência, justificativas aos vícios, de forma que um Estado é mais bem dirigido quando, apesar de possuir muito poucas delas, são estritamente cumpridas; portanto, em lugar desse grande número de preceitos de que se compõe a lógica, achei que me seriam suficientes os quatro seguintes, uma vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar uma só vez de observá-los.
O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dele.
O segundo, repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las.
O terceiro, de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.
E o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir. (...)
Por desejar então dedicar-me apenas a pesquisa da verdade, achei que deveria agir exatamente ao contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, não restaria algo em meu crédito que fosse completamente incontestável.
Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, por existirem homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria, e cometem paralogismos, rejeitei como falsas, achando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro todas as razões que eu tomara até então por demonstrações. E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos, sem que exista nenhum, nesse caso, que seja correto, decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo em que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava.
Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e vendo que podia presumir que não possuía corpo algum e que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bastante evidência e certeza que eu existia; ao passo que, se somente tivesse parado de pensar, apesar de que tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não teria razão alguma de acreditar que eu tivesse existido; compreendi, então, que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de lugar algum, nem depende de qualquer coisa material. De maneira que esse eu, ou seja, a alma, por causa da qual sou o que sou, é completamente distinta do corpo e, também, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, mesmo que este nada fosse ela não deixaria de ser tudo o que é.
Depois disso, considerei o que é necessário a uma proposição para ser verdadeira e correta; pois, já que encontrara uma que eu sabia ser exatamente assim, pensei que devia saber também em que consiste essa certeza. E, ao perceber que nada há no eu penso, logo existo, que me dê a certeza de que digo a verdade, salvo que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, concluí que poderia tomar por regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras, havendo somente alguma dificuldade em notar bem quais são as que concebemos distintamente.

Dicionário Filosófico

Inatismo – Concepção segundo a qual certas ideias, princípios ou estruturas do pensamento são inatas em virtude de pertencerem à natureza humana – isto é, à mente ou ao espírito – sendo, portanto, nesse sentido, universais.  

Método – (meta = por, através de; hodos = caminho) Conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um objetivo determinado.

Dúvida metódica – Método de conhecimento que tem por objetivo descobrir a verdade, consistindo em considerar provisoriamente como falso tudo aquilo cuja verdade não se encontra assegurada.

Dualismo – Doutrina segundo a qual a realidade é composta de duas substâncias independentes e incompatíveis. No caso de Descartes são o pensamento (alma) e a extensão (corpo). Oposto ao monismo.

Ceticismo – (cético = aquele que investiga) Concepção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. Oposto ao dogmatismo.

Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo

1 – O que é “igual em todos os homens” para “poder julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso”:
                (   ) bom senso, razão            (   ) boa percepção, sensação
2 – Porque, então, os homens pensam diferentes?
                (   ) por que aplicam bem a razão, usam métodos, vão por um reto caminho
                (   ) por que não aplicam bem a razão, não usam métodos, não vão por um reto caminho
3 – Para aplicar bem a razão, usar um método, ir por um reto caminho, Descartes observerá quatro preceitos (Coloque V para os verdadeiros ou F para os falsos):
(   ) aceitar algo como verdadeiro somente se apresentasse tão clara e distintamente ao espírito
(   ) repartir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias
(   ) conduzir por ordem meus pensamentos, dos mais simples até os mais compostos
(   ) efetuar revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir

O método cartesiano. No preceito ou passo 1, as coisas indubitáveis (círculos marcados com i) passam por um "funil", que impede a passagem de coisas que tragam dúvidas (d). No segundo, as coisas são analisadas, ou seja, divididas para melhor compreensão; no terceiro, procede-se a síntese, ou agrupamento em graus de complexidade crescente. No último passo, as conclusões são ordenadas e classificadas.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/44/Cartesiano.png
Acesso em 8 de janeiro de 2012

4 – Descartes queria dedicar-se apenas a pesquisa da verdade. Por isso ele:
            (   ) acreditou em tudo       (   ) duvidou de tudo
5 – Descartes utiliza o método de colocar tudo em dúvida para buscar a:
(   ) sabedoria        (   ) verdade        (   ) pesquisa
6 – Segundo Descartes o que, às vezes, me engana:
(   ) os sentidos      (   ) o estado onírico        (   ) as duas opções
7 – Observando a imagem abaixo (ao se afastar os personagens inverterão suas posições) podemos concordar com Descartes de que “os nossos sentidos às vezes nos enganam”   (   ) sim    (   ) não

Dr. Angry and Mr. Smiles

8 – No filme “Matrix”, Neo é despertado de seu estado onírico por Morfeu.

http://alphakick.com/technology/stomach-bug-from-the-matrix-is-on-its-way-to-a-colon-near-you/
Acesso em: 8 de janeiro de 2012

Quando o “grampo” foi implanto através do umbigo no corpo do Sr. Anderson pelos agentes com a aparência de um crustáceo, no dia seguinte, ao despertar, ele pensa que foi somente um sonho?  (    ) sim           (    ) não
E o que diz quando o sensor é extirpado por Trinity? 
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https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicO_jX2hQh8c2mBt-iRs_CCOI3Cuz40-GW-j8eJmc98BVmMk074Fym2rZvia4A3erxxfLsQdMC_reeuWW1PDGKpMS6C7ZJnBijJlXfGPfi5rKG_4-TxEeXJGqmcQtNrz8MKDlceIkAeHU/s1600/The_Matrix_822.jpg
Acesso em: 8 de janeiro de 2012

9 - Em analogia à obra de Descartes, o que é a Matrix?
            (   ) Um Gênio Maligno que pode estar me enganando
(   ) Uma empresa de software gigantesca
10 – Após realizar a dúvida metódica qual foi o primeiro princípio da filosofia encontrado por Descartes?
11 – Nós somos substâncias cuja essência ou natureza consiste apenas no:
                (   ) corpo           (   ) pensamento
12 – Para Descartes o corpo é distinto da alma?
                (   ) sim         (   ) não
13 – Qual é mais fácil conhecer:
                (   ) o corpo      (   ) a alma
14 – “Penso, logo existo” é uma proposição verdadeira. As coisas para serem consideradas verdadeiras precisam ser concebidas como:
(   ) claras e distintas      (   ) limpas e separadas
15 – A filosofia de Descartes é considerada:
(   ) racionalista      (   ) empirista     (   ) criticista
16 – (UNIOESTE-2011) Considerando-se as primeiras linhas das Meditações sobre a filosofia primeira de Descartes é correto afirmar sobre a teoria do conhecimento cartesiana que:
a) Descartes não utiliza um método ou uma estratégia para estabelecer algo de firme e certo no conhecimento, já que suas opiniões antigas eram incertas.
b) Descartes considera que não é possível encontrar algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse objetivo não foi atingido.
c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou como conhecimento, busca fundamentar nos sentidos uma base segura para as ciências.
d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas antigas opiniões e utiliza o método da dúvida até encontrar algo de firme e certo.
e) Descartes necessitou de solidão para investigar as suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. 
17 - (PUC-PR) No livro Discurso do Método (1637), Descartes estabeleceu algumas regras para bem conduzir a razão. Assinale a alternativa que não contenha uma dessas regras.
I. Somente acolher alguma coisa como verdadeira após conhecê-la de maneira evidente.
II. Dividir cada dificuldade a ser examinada em quantas partes forem possíveis e necessárias para resolvê-la.
III. Conduzir em ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais complexos compostos.
IV. Fazer, para todos os procedimentos, revisões e enumerações completas para ter certeza de que nada foi omitido.
V. Aceitar a fé como fonte do conhecimento a partir da qual tudo pode ser pensado.

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