Filosofia das Ciências
Temas: geocentrismo / heliocentrismo
Filósofo: Copérnico, N. (1473 – 1543)
Obra: Sobre as Revoluções das Esferas Celestes (1543)
Biografia
Copérnico, N. (1473 – 1543) foi um astrônomo e matemático polonês que desenvolveu a teoria heliocêntrica do Sistema Solar.
Movimento retrógrado aparente de Marte (à frente) e Urano (ao fundo)
Movimento retrógrado aparente de Marte em 2003, visto da Terra.
Habilidade: ler textos
filosóficos de modo significativo
Sobre as Revoluções das Esferas
Celestes (1543)
Prefácio dedicado a Sua Santidade Paulo III Sumo Pontífice
Seguramente bem posso, Santíssimo Padre, ter a certeza de que certas
pessoas, ao ouvirem dizer que eu atribuo determinados movimentos ao globo
terrestre, nestes meus livros escritos acerca das revoluções das esferas do
Universo, imediatamente hão de gritar a necessidade de eu ser condenado
juntamente com tal opinião. No entanto, a mim não me satisfazem as minhas
ideias a ponto de deixar de ponderar o que os outros estiveram dispostos a
julgar a respeito delas. E, embora eu saiba que as ideias de um filósofo não
estão sujeitas ao julgamento do vulgo, uma vez que a preocupação daquele é
inquirir da verdade em todas as circunstâncias até onde tal é permitido à razão
humana por Deus, todavia penso que as opiniões totalmente errôneas devem ser
evitadas. Por isso, ao pensar comigo mesmo como aqueles que afirmam ser
confinada pelo julgamento de muitos séculos a opinião de que a Terra está
imóvel no meio do Céu e aí está colocada servindo-lhe de centro, haviam de
considerar uma cantilena absurda defender eu, pelo contrário, que é a Terra que
se move; hesitei comigo durante muito tempo se havia de dar a lume os meus
Comentários escritos para demonstração desse movimento, ou se seria preferível
seguir o exemplo dos Pitagóricos e de alguns outros que procuravam confiar os
mistérios da filosofia aos seus familiares, amigos e a ninguém mais, não por
escrito, mas de viva voz, tal como atesta a carta de Lísis a Hiparco. (...)
Por tal razão não quero
que Vossa Santidade ignore que nenhum outro motivo me levou a pensar num método
diferente de calcular os movimentos das esferas do Universo senão o facto de
ter verificado que os matemáticos não estão de acordo consigo próprios na
investigação de tais movimentos. É que em primeiro lugar eles se
encontram de tal maneira inseguros quanto ao movimento do Sol e da Lua
que nem a duração regular do ano corrente são capazes de explicar e formular.
Em segundo lugar, ao
determinarem os movimentos das esferas do Universo e dos cinco planetas não
usam até dos mesmos princípios e premissas que nas demonstrações dos movimentos
e revoluções aparentes. Com efeito, uns apenas se servem de círculos
concêntricos e outros de círculos excêntricos e de epiciclos com os quais,
porém, não atingem completamente o que pretendem. (...)
E assim, no processo
de demonstração a que chamam método, verifica-se que deixaram de fora
algumas das condições necessárias ou incluíram nele alguma coisa estranha
e que nada tinha a ver com a matéria. E isto não lhes teria de certeza
acontecido se tivessem seguido princípios rigorosos. É que se as
suas hipóteses admitidas não fossem falsas, tudo o que delas
se conclui verificar-se-ia sem margem de dúvida.
Andando eu, pois, há
muito tempo a meditar comigo nesta incerteza dos ensinamentos tradicionais das
matemáticas acerca da dedução dos movimentos das esferas do Universo, começou a
desgostar-me o facto de os filósofos não terem conhecimento firme de nenhuma
explicação da máquina do Mundo que por nossa causa fora construída pelo mais
qualificado e modelar artista de todos, eles que, aliás, fazem afinal profundas
investigações a respeito das mais minuciosas coisas deste Universo. (...)
Assim, aproveitei,
desde logo a oportunidade e comecei também eu a especular acerca da mobilidade
da Terra. E embora a ideia parecesse absurda, contudo, porque eu sabia que a outros
antes de mim fora concedida a liberdade de imaginar os círculos que quisessem
para explicar os fenômenos celestes, pensei que também me fosse facilmente
permitido experimentar se, uma vez admitido algum movimento da Terra, poderia
encontrar demonstrações mais seguras do que as deles para as revoluções das
esferas celestes.
E deste modo, admitindo
os movimentos que eu à Terra atribuo na obra infra, com perguntas e longas
observações, descobri que, se estabelecermos relação entre a rotação da terra e
os movimentos dos restantes astros, e os calcularmos em conformidade com a
revolução de cada um deles, não só se hão de deduzir daí os seus fenômenos mas
até se hão de interligar as ordens e grandezas de todas as esferas e astros
assim como o próprio céu, de modo que, em parte nenhuma, nada de si se possa
deslocar sem a confusão das restantes partes e de toda a universalidade.
Tradução de A.D. Gomes e G. Domingues.
Dicionário
Filosófico
Movimento
retrógrado aparente é o movimento aparente de um planeta em uma direção oposta à de outros corpos dentro de seu
sistema, como observado a partir de um ponto de vista específico.
Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de
modo reflexivo
1 – O primeiro parágrafo
inteiro é uma justificação endereçada ao Papa Paulo III, pois naquela época
existia a:
( ) Santa Fé cujo objetivo era combater os
cientistas.
( ) Santa Inquisição cujo objetivo era
combater a heresia.
( ) Santa
Igreja cujo objetivo era combater os intelectuais
2 – Ainda sobre o primeiro parágrafo faça a relação.
(A) Geocentrismo
(B) Heliocentrismo
( ) “A Terra está imóvel no meio do Céu e aí está colocada servindo-lhe de
centro”.
( ) “Pelo contrário, é a Terra que se move”.
3 – No segundo parágrafo
encontramos uma crítica aos matemáticos da época: “eles
se encontram de tal maneira inseguros quanto ao movimento do Sol e da Lua
que nem a duração regular do ano corrente são capazes de explicar e formular”.
Em 1582 adotamos um novo calendário chamado de:
( )
Calendário Juliano ( ) Calendário Gregoriano ( ) Calendário Papal
4 – Em seguida
Copérnico diz “verifica-se que (eles) deixaram de fora algumas das
condições necessárias ou incluíram nele alguma coisa estranha e que nada
tinha a ver com a matéria”. Quando isto acontece temos uma hipótese:
( ) ad hoc ( ) et cetera (
) sic ( ) deus ex machina
5 – No parágrafo
seguinte o matemático polonês critica os filósofos (de seu tempo e do passado)
por “não terem conhecimento firme de nenhuma explicação da máquina do Mundo”.
Era utilizado o apelo à palavra ou
reputação de alguma autoridade a fim de validar o argumento. Este “erro”
lógico é conhecido como:
( ) Falácia argumentum ad verecundiam (do apelo à
autoridade)
( ) Falácia argumentum ad baculum (do apelo à força)
( ) Falácia Argumentum ad antiquitatem (do apelo
à antiguidade)
6 – No penúltimo
parágrafo o astrônomo especula sobre a possibilidade de a Terra mover-se.
Pesquise quais são os três movimentos que nosso planeta realiza e que Copérnico
teorizou:
( ) rotação diária,
volta anual, e inclinação anual de seu eixo.
( ) epiciclo, movimento excêntrico e nenhuma
inclinação em seu eixo.
( ) rotação anual, volta elíptica (órbita) e inclinação
axial a cada mil anos
7 – No último parágrafo Copérnico afirma que descobriu através
de cálculos matemáticos a relação entre o movimento de rotação da Terra com os
movimentos dos restantes astros. Isto significa que:
( ) O movimento retrógrado dos planetas é
explicado pelo movimento da Terra.
( ) O movimento linear dos planetas é
explicado pelo movimento da Galáxia.
( ) O movimento circular dos planetas é
explicado pelo movimento Divino.
8 – (ENEM).
“(...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. (...) Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conhecimento, não superficialmente, mas duma maneira aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos.” (COPÉRNICO,
Nicolau. De revolutionibus orbium
coelestium.)
“Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas.” (DA
VINCI, Leonardo. Cartas.)
O aspecto a ser
ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é:
a) a fé como guia das
descobertas.
b) o senso crítico para
se chegar a Deus.
c) a limitação da
Ciência pelos princípios bíblicos.
d) a importância da
experiência e da observação.
e) o princípio da
autoridade e da tradição.
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