O universo é finito ou infinito?
Filosofia das Ciências
Temas: infinitude do universo / paralaxe
Filósofo: Giordano Bruno (1548 - 1600)
Obra: Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos (1584)
Biografia
Bruno (1548- 1600) – teólogo e filósofo italiano condenado à morte pela Inquisição romana com a acusação de heresia ao defender a infinitude do universo entre outros.
Habilidade: ler de modo
filosófico textos de diferentes estruturas e registros
Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo
Habilidade: ler textos
filosóficos de modo significativo
Sobre
o Infinito, o Universo e os Mundos (1584)
DIÁLOGO PRIMEIRO
Interlocutores ELPINO, FILOTEO,
FRACASTORIO, BURQUIO
ELPINO — Como é possível que o universo
seja infinito?
FILOTEO — Como é possível que o universo
seja finito?
ELPINO — Acham vocês que seja possível
demonstrar esta infinitude?
FILOTEO — Acham vocês que seja possível
demonstrar esta finitude?
ELPINO — Que dilatação é esta?
FILOTEO — Que limites são estes?
(...)
BURQUIO — O infinito não pode ser
compreendido pelo meu raciocínio, nem digerido pelo meu estômago, embora eu
deseje que seja assim como afirma Filoteo, porque, se por desgraça acontecesse
de eu cair fora deste meu mundo, sempre encontraria outro país.
ELPINO — Com certeza, Filoteo, se nós
quisermos colocar os sentidos como juiz ou dar-lhes a função que lhes é
própria, isto é, ser o veículo originário de toda a informação, acharemos então
muito difícil encontrar um meio para concluir aquilo que você afirma, de
preferência ao contrário. Agora, se for de seu agrado, comecem a me fazer
entender algo.
FILOTEO — Não são os sentidos que
percebem o infinito; não é pelos sentidos que chegamos a esta conclusão, porque
o infinito não pode ser objeto dos sentidos. Por isso aquele que procura
esclarecer tudo isto através dos sentidos se parece com aquele que procura
enxergar com os olhos a substância e a essência; e aquele que as negasse, por
não serem sensíveis ou visíveis, negaria a própria substância, o próprio ser.
Mas deve haver cautela em recorrer ao testemunho dos sentidos, os quais
admitimos só no campo das coisas sensíveis, mesmo aceitando-os com certa
suspeita, se não emitirem um julgamento de acordo com a razão. É conveniente
para o intelecto julgar e dar razão das coisas ausentes e divididas por espaço
de tempo e de lugar. Nisto temos suficiente testemunho no campo dos sentidos
pelo fato de não poderem nos contradizer e, ainda mais, por tornarem evidente e
confessarem sua incapacidade e insuficiência na aparência da finitude causada
pelos limites de seu horizonte, tornando evidente como são inconstantes. Ora,
se conhecemos por experiência que eles nos enganam com respeito à superfície do
globo no qual nos encontramos, muito mais devemos suspeitar deles quando querem
referir-se ao côncavo céu estrelado.
ELPINO — Para que então servem os
sentidos? Digam-no.
FILOTEO — Servem somente para excitar a
razão, para tomar conhecimento, indicar e dar testemunho parcial, não para
testemunhar sobre tudo, nem para julgar, nem para condenar. Porque nunca, mesmo
perfeitos, são isentos de alguma perturbação. Por isso a verdade, em pequena
parte, brota desse fraco princípio que são os sentidos, mas não reside neles.
ELPINO — Onde então?
FILOTEO — No objeto sensível como num
espelho, na razão como argumentação e discurso, no intelecto como princípio e
conclusão, na mente como forma própria e viva.
ELPINO — Vamos, então, apresentem seus raciocínios.
ELPINO — Vamos, então, apresentem seus raciocínios.
FILOTEO — Assim farei. Se o mundo é finito
e fora do mundo está o nada, pergunto a vocês: onde se encontra o mundo? Onde o
universo? Aristóteles responde: em si mesmo. O convexo do primeiro céu é lugar
universal; sendo ele o que tudo contém, não é contido por outro, porque o lugar
não é nada a não ser superfície e extremidade de um corpo continente: do que se
deduz que tudo o que não possui corpo continente não possui lugar. Mas o que
você quer dizer, Aristóteles, atirando que "o lugar está em si
mesmo"? O que você quer concluir com a afirmação "coisa existente
fora do mundo"? Se você afirma que não existe nada; o céu, o mundo, por
certo, não existem em lugar algum.
FRACASTORIO — Portanto, o mundo não estará em lugar algum.
O todo estará no nada.
Dicionário Filosófico
Paralaxe
– vem do grego e significa alteração. É
a alteração da posição angular de dois pontos estacionários relativos um ao
outro como vistos por um observador em movimento. Em astronomia, paralaxe é a
diferença na posição aparente de um objeto visto por observadores em
locais distintos. A paralaxe estelar é utilizada para medir a distância das
estrelas utilizando o movimento da Terra em sua órbita.
Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo
Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo
1 – Nas seis primeiras linhas, no diálogo entre Elpino e Filoteo, encontramos um exemplo de:
( ) antinomias ( ) utopias ( ) distopias
2 – Ao responder a indagação de Elpino, Filoteo diz que:
( ) são os sentidos que percebem o infinito
( ) os sentidos não percebem o infinito
3 – Por quê?
( ) porque o infinito pode ser objeto dos sentidos
( ) porque o infinito não pode ser objeto dos sentidos
4 – “Temos suficiente testemunho no campo dos sentidos pelo fato de não poderem nos contradizer e, ainda mais, por tornarem evidente e confessarem sua incapacidade e insuficiência na aparência da finitude causada pelos limites de seu horizonte, tornando evidente como são inconstantes. Ora, se conhecemos por experiência que eles nos enganam com respeito à superfície do globo no qual nos encontramos, muito mais devemos suspeitar deles quando querem referir-se ao côncavo céu estrelado.”
Paralaxe
Labi - UFScar
Publicado em 2 de mar de 2015
Pesquise no dicionário filosófico o que
é paralaxe.
5 – Qual é a resposta que Filoteo dá ao
questionamento de Elpino: para que então servem os sentidos?
6 – Para a indagação de Filoteo: se o mundo é finito
e fora do mundo está o nada, pergunto a vocês: onde se encontra o mundo?
a) Qual é a
resposta de Aristóteles?
b) Qual é a
conclusão de Fracastorio?
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