Wellington Sversut - Bauru - Brasil

Platão - reminiscência

O que torna possível o conhecimento?

Filosofia do Conhecimento
Temas: a anamnese ou reminiscência
Filósofo: Platão (428 - 347 a.C.)
Obra: Fédon (ou da alma)

Biografia

Platão (428/27–347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

Habilidade: ler de modo filosófico textos de diferentes estruturas e registros


Platão - Teoria das Ideias | Teoria das Formas | Filosofia

Habilidade: ler textos filosóficos de modo significativo

Fédon (ou da alma)

Sócrates – Duvidas que seja apenas recordar o que denominamos aprender?
Símias – Não direi que duvide. O que eu quero é justamente isso sobre discutimos: recordar-me. Com a exposição de Cebete cheguei quase a relembrar e convencer-me. Não obstante, gostaria de saber como vais desenvolver o tema.
Sócrates – Eu? Num ponto estamos de acordo: que para recordar-se alguém de alguma coisa é preciso ter tido antes o conhecimento dessa coisa.
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – E não poderemos declarar-nos também de acordo a respeito de mais outro ponto, que o conhecimento alcançado em certas condições tem o nome de reminiscência? Refiro-me ao seguinte: quando alguém vê ou ouve alguma coisa, ou a percebe de outra maneira, e não apenas adquire o conhecimento dessa coisa como lhe ocorre a ideia de outra que não é objeto do mesmo conhecimento, porém de outro, não teremos o direito de dizer que essa pessoa se recordou do que lhe veio ao pensamento?
Símias – Como assim?
Sócrates – É o seguinte: uma coisa é conhecimento do homem, e outra a da lira.
Símias – Sem dúvida.
Sócrates – E não sabes o que se passa com os amantes, quando veem a lira, a roupa, ou qualquer outro objeto de uso de seus amados? Reconhecem a lira e formam no espírito a imagem do mancebo a quem a lira pertence. Reminiscência é isso: ver alguém frequentemente a Símias e recordar-se de Cebete. Há mil outros exemplos do mesmo tipo.
Símias – Milhares.
Sócrates – Não constitui isso uma espécie de reminiscência? Principalmente quando se dá com relação à coisa de que poderíamos estar esquecidos, pela ação do tempo ou por falta de atenção.
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – E então? Não é possível lembrar-se alguém de um homem, ao ver a pintura de um cavalo ou de uma lira, ou então, ao ver o retrato de Símias, recordar-se de Cebete?
Símias – Muito possível.
Sócrates – E diante do retrato de Símias, lembrar-se do próprio Símias?
Símias – Isso também.
Sócrates – E não é certo que em todos esses casos a reminiscência tanto provém dos semelhantes como dos dessemelhantes?
Símias – Provém, de fato.
Sócrates – E no caso de lembrar-se alguém de alguma coisa à vista de seu semelhante, não será forçoso perceber essa pessoa se a semelhança é perfeita ou se apresenta alguma falha?
Símias – Forçosamente.
Sócrates – Considera, então, se tudo não se passa deste modo. Afirmamos que há alguma coisa a que damos o nome de igual; não imagino a hipótese de que um pedaço de pau ser igual a outro, nem uma pedra a outra pedra, nem nada semelhante; refiro-me ao que se acha acima de tudo isso; a igualdade em si. Diremos que existe ou que não existe?
Símias – Existe, por Zeus!
Sócrates – E que também saberemos o que seja?
Símias – Sem dúvida.
Sócrates – E onde formos buscar esse conhecimento? Não foi naquilo a que nos referimos a pouco, à vista de um pau ou de uma pedra e de outras coisas iguais, que nos surgiu à ideia de igualdade, que difere delas? Ou não te parece diferir? Considera também o seguinte: por vezes, a mesma pedra ou a mesma lenha, sem se modificarem, não te afiguram ora iguais, ora desiguais?
Símias – Sem dúvida.
Sócrates – E então? O igual já se te apresentou alguma vez como desigual, e a igualdade como desigualdade?
Símias – Nunca, Sócrates.
Sócrates – Por conseguinte, não são a mesma coisa esses objetos iguais e a igualdade em si.
Símias – De jeito nenhum, Sócrates.
Sócrates – Não obstante foi desses iguais, diferentes da igualdade, que concebeste e adquiriste o conhecimento desta última.
Símias – Está muito certo o que afirmaste.
Sócrates – Que pode ser semelhante àqueles ou dessemelhantes?
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – Isso, aliás, é indiferente. Desde que, à vista de um objeto, pensas em outro, seja ou não seja semelhante ao primeiro, necessariamente o que se dá nesse caso é reminiscência.
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – E então? Que se passa conosco, com relação aos pedaços de pau iguais e a tudo o mais a que nos referimos há pouco? Afiguram-se-nos iguais à igualdade em si, ou lhes falta alguma coisa para serem como a igualdade? Ou não falta nada?
Símias – Falta muito.
Sócrates – Estamos, por conseguinte, de acordo, que quando alguém vê um determinado objeto e diz: O objeto que tenho neste momento diante dos olhos aspira a ser como outro objeto real, porém fica muito aquém dele, sem conseguir alcançá-lo, visto lhe ser inferior: essa pessoa, dizia, ao fazer semelhante observação, tinha necessariamente o conhecimento do objeto com o qual ela disse que o outro se assemelhava, porém era inferior.
Símias – Forçosamente.
Sócrates – E então? Não se passará a mesma coisa conosco, em relação às coisas iguais e à igualdade em si mesma?
Símias – Sem dúvida nenhuma.
Sócrates – É preciso, portanto, que tenhamos conhecido a igualdade antes do tempo em que, vendo pela primeira vez objetos iguais, observamos que todos eles se esforçavam por alcançá-la, porém lhe eram inferiores.
Símias – Certo.
Sócrates – Como também nos declaramos de acordo em que não poderíamos fazer semelhante observação nem ficar em condições de fazê-la, a não ser por meio da vista ou do tato, ou de qualquer outro sentido. Não estabeleço diferenças.
Símias – De fato, Sócrates, são equivalentes; pelo menos no que respeita ao tema em discussão.
Sócrates – De qualquer forma, é por meio dos sentidos que observamos tenderem para a igualdade em si todas as coisas percebidas como iguais, porém sem jamais alcançá-la. Ou que diremos?
Símias – Isso mesmo.
Sócrates – Logo, antes de começarmos a ver, a ouvir, ou a empregar os demais sentidos, já devemos ter adquirido em alguma parte o conhecimento do que seja a igualdade em si, para ficarmos em condições de relacionar com ela as igualdades que os sentidos nos dão a conhecer e afirmar que estas se esforçam por alcançá-la, porém lhe são inferiores.
Símias – É a consequência necessária, Sócrates, do que foi dito antes.
Sócrates – E não é certo que vemos e ouvimos e fazemos uso dos demais sentidos logo após o nascimento?
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – Será preciso, então, é o que afirmamos já termos antes disso o conhecimento da igualdade.
Símias – Certo.
Sócrates – Antes do nascimento, por conseguinte, ao que parece, é que necessariamente o adquirimos.
Símias – Parece, mesmo.
Sócrates – Logo, se o adquirimos antes do nascimento e nascemos com ele, é porque conhecemos antes do nascimento e ao nascer tanto o igual, o maior e o menor, como as demais noções da mesma natureza. Pois tanto é válido nosso argumento para a igualdade como para o belo em si mesmo e o bem em si mesmo, a justiça, a piedade e tudo o mais, como disse, a que pusemos a marca de O próprio que é assim nas perguntas que formulamos como nas respostas apresentadas. A esse modo, adquirimos necessariamente antes de nascer o conhecimento de tudo isso.
Símias – Certo.
Sócrates – E se, depois de adquirido tal conhecimento não o esquecêssemos, desde o nascimento o possuiríamos e o conservaríamos toda a vida. Pois conhecer, de fato, consiste apenas no seguinte: conservar o conhecimento adquirido, sem vir nunca a perdê-lo. O que denominamos esquecer, Símias, não será precisamente a perda do conhecimento?
Símias – Não será outra coisa, Sócrates, respondeu.
Sócrates – Se, em verdade, segundo penso, antes de nascer já tínhamos tal conhecimento e o perdemos ao nascer, e depois, aplicando nossos sentidos a esses objetos, voltamos a adquirir o conhecimento que já possuíramos num tempo anterior: o que denominamos aprender não será a recuperação de um conhecimento muito nosso? E não estaremos empregando a expressão correta, se dermos a esse processo o nome de reminiscência?
Símias – Perfeitamente.
Sócrates – Pois já se nos revelou como possível, ao percebemos alguma coisa, pela vista ou pelo ouvido, ou por qualquer outro sentido, pensar em outra de que nos havíamos esquecido, mas que se associa com a primeira por parecer-se com ela ou por lhe ser dessemelhante.
Desse modo, como disse, uma das duas há de ser, por força: ou nascemos com tal conhecimento e o conservamos durante toda a vida, ou então as pessoas das quais dizemos que aprendem posteriormente, o que fazem é recordar, vindo a ser o conhecimento reminiscência.
Símias – Tudo se passa realmente desse modo, Sócrates.

Dicionário Filosófico

Anamnese ou reminiscência: ação de lembrar-se, recordação. Na filosofia platônica, a anamnese consiste no esforço progressivo pelo qual a consciência individual remonta, da experiência sensível, para o mundo das ideias. A alma antes de sua encarnação no corpo, teria tido contato direto com as formas que constituem o mundo inteligível, e delas se recordaria posteriormente quando já encarnada.

Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo

1 – Ao ver esta camisa amarela da seleção brasileira de 1970, número dez, de quem recordamos?


2 – Assim, segundo Platão todo conhecimento é uma: ______________________.
4 – Para recordar alguma coisa é preciso tê-la conhecido anteriormente.
(   ) verdadeiro            (   ) falso
4 – Quais as duas maneiras que se dá a reminiscência?
a) A primeira é a recordação através da _____________________________. (Cole a imagem de uma pessoa que você gosta)
b) A segunda é a recordação através da _____________________________________. (Cole a imagem de um objeto que ao vê-lo traga a recordação da pessoa acima). 
5 – Para Platão, as ideias são inatas, “as conhecemos antes de nascer”.
(   ) verdadeiro            (   ) falso
6 – O que é, de fato, conhecer?
7 – O que é, de fato, esquecer?
8 – “Se, antes de nascer já tínhamos conhecimento e o perdemos ao nascer, e depois, aplicando nossos sentidos a esses objetos, voltamos a adquirir o conhecimento que já possuíramos num tempo anterior: o que denominamos aprender não será a recuperação de um conhecimento muito nosso? E não estaremos empregando a expressão correta, se dermos a esse processo o nome de __________________________?”
9 – Na filosofia platônica, no que consiste a anamnese?
10 – Para Platão a nossa alma:
(   ) é mortal, só existe neste corpo
(   ) sempre renasce
11 – Platão ___________________ (elogia / condena) o corpo no sentido deste em adquirir o conhecimento.
12 – Cole cinco imagens de objetos semelhantes (exemplo: cinco pedras ou cinco gatos ou cinco cadeiras, etc). Formule uma ideia para estes cinco objetos (exemplo: ideia de Igualdade para as pedras; ideia de Quadrupede para os felinos; ideia de Utilidade para as cadeiras). Esta ideia que você formulou (no caso dos exemplos: Igualdade, Quadrupede e Utilidade) surgiu da experiência sensível ou de onde você acredita que ela se originou? Concorda com Platão?

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