Wellington Sversut - Bauru - Brasil

Sêneca - ataraxia

Podemos desenvolver um estado de vida onde nada nos abale?

Filosofia da Moral ou Ética
Tema: a ataraxia
Filósofo: Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.)
Obra: A Tranquilidade da Alma

Biografia

Sêneca – (4 a.C. - 65 d.C.) foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento. Dedicou-se com sucesso à carreira política até tornar-se conselheiro do Imperador Nero, de quem havia sido preceptor. Em 62 caiu em desgraça e abandonou a carreira política; três anos depois, acusado de traição, recebeu de Nero a ordem de suicidar-se.

Habilidade: ler de modo filosófico textos de diferentes estruturas e registros

The Beatles - Across The Universe



Habilidade: ler textos filosóficos de modo significativo

A Tranquilidade da Alma

Aquilo a que aspiras é algo grande, sublime e quase divino: a impassibilidade. A tal equilíbrio de espírito os gregos dão o nome de eutimia. Sobre ele, Demócrito escreveu um livro belíssimo; eu o chamo Tranquilidade da Alma. (...)
Nós estamos à procura dos modos pelos quais a alma possa proceder com equilíbrio e harmonia, estar em paz consiga mesma e satisfeita com sua condição; de como possa não turbar essa alegria e se manter serena, sem nunca se exaltar nem se abater. Essa será a tranquilidade. Buscamos, portanto, como se pode alcançá-la; depois, do remédio comum, tomarás o que for bom para ti. (...)
Portanto, as variedades do mal são numerosas, mas o resultado é o mesmo: estar sempre insatisfeito consigo mesmo. E isso decorre dos desequilíbrios internos e dos desejos duvidosos e não realizados. De fato, os inquietos nem mesmo tentam ter o que desejam, ou então não conseguem obtê-lo, motivo pelo qual vivem numa esperança vã, inconstantes e agitados, como sempre acontece aos que são incapazes de decisão. Procuram por todos os meios satisfazer os seus desejos. Fazem projetos, depois cometem ações desonestas e arriscadas, e, se a sua obra não alcança sucesso, são atormentados por uma vergonha inútil e lamentam-se não tento por ter desejado o mal, mas por tê-lo desejado sem propósito. (...)
E tudo isso se agrava quando a irritação por algum insucesso os leva a refugiar-se no privado e na solidão dos estudos, difíceis de suportar para um espírito inclinado à vida pública, amante da ação e irrequieto por natureza, evidentemente incapaz de encontrar conforto em si mesmo: eliminadas as distrações oferecidas pelas ocupações dos atarefados, não suportam a casa, a solidão, as paredes domésticas, e não conseguem se resignar a estar a sós com eles mesmos. (...)
Daí o estado de espírito de quem odeia o próprio isolamento e lamenta não ter o que fazer; daí a inveja pelo sucesso alheio. A inércia infeliz alimenta, de fato, o ódio: quem não conseguiu obter sucesso deseja que todos os outros fracassem. Por essa rejeição ao sucesso alheio e por essa falta de esperança na alma, enfurece-se contra o destino, lamenta-se do próprio tempo, fecha-se em si mesmo, remoendo a sua pena, enquanto se entedia e se envergonha de si mesmo. (...)
Devemos nos convencer de que o mal que sofremos não depende dos lugares, mas de nós; não temos forças para suportar nada, nem labores nem prazeres, tampouco nós mesmos. Eis porque alguns chegaram ao suicídio: porque as metas a que se propuseram alcançar, de tanto serem mudadas, acabavam por representar sempre as mesmas coisas, não abrindo espaço para as novidades; a vida e o próprio mundo começaram a enfastia-los e instalou-se na sua mente aos seus próprios prazeres: “Sempre as mesmas coisas! Até quando isso vai durar?” (...)
Um relevante motivo de preocupações é adotar um comportamento estudado, não se mostrar como se é. É um tormento, de fato, estar sempre se controlando, no temor de ser apanhado em uma atitude diferente da habitual. E não nos libertaremos nunca das preocupações se acreditarmos que os outros nos julgam todas as vezes que nos olham. Efetivamente, são muitas as ocasiões que revelam, contra nossa vontade, o que somos verdadeiramente; de qualquer maneira, mesmo quando conseguimos exercer o autocontrole, certamente não é uma vida agradável, nem tranquila, a de quem se esconde atrás da máscara.
Quanta alegria nos dá, ao contrário, a genuína simplicidade, que pela sua natureza despojada não esconde a própria natureza! Todavia, mesmo esse modo de viver corre o risco de não ser apreciado, porque as pessoas se entediam de tudo o que está ao alcance das mãos.
Mas a virtude não corre o menor risco de perder o seu valor se for vista por todos, e de qualquer maneira é melhor ser desprezado pela simplicidade do que se atormentar em uma contínua simulação. Seja como for, procuremos encontrar a justa medida também quanto a isso: existe uma grande diferença entre o viver com simplicidade e o viver descuidadamente.
É preciso também saber se recolher em si mesmo: frequentar pessoas diversas perturba o equilíbrio interior, despertam as paixões, agrava as fraquezas e os males ainda não curados. É preciso saber alterar a solidão e o estar com os outros. A primeira nos fará sentir o desejo de estar com os outro, o segundo, o desejo de estar conosco. E uma servirá de remédio para o outro: a solidão nos curará do desagrado pela multidão, o estar com os outros, do tédio da solidão. (...)
Devem-se conceder algumas pausas ao nosso espírito; uma vez descansado, ele vai se recuperar melhor e ficará fortalecido. Do mesmo modo que não se deve forçar demais os campos férteis, porque um cultivo sem interrupção logo os esgotará, também o esforço contínuo terminará por arrefecer o ímpeto do espírito: com um pouco de relaxamento e de descanso, ele recobrará o vigor; o sono também é necessário à saúde, mas prolongando-se dia e noite torna-se uma espécie de morte: existe uma grande diferença entre suspender uma coisa e pôr-lhe um fim. (...)
É preciso saber restaurar o espírito e conceder-lhe de quando em quando o descanso que o fortalece e o revigora. Também é necessário passear ao ar livre, para reanimar e recrear o espírito, respirando a céu aberto o ar salutar. Às vezes, uma viagem pode nos ajudar, uma mudança de lugar, um jantar, alguns copos a mais. (...)
Em certos casos, pode-se até ficar um pouco alegre, não para se embrutecer, mas para acalmar-se; de fato, a embriaguez leva embora a ansiedade, sacode o nosso ânimo, elimina a melancolia. (...) Mas, como para a liberdade, também para o vinho é preciso moderação. (...) Certamente não se deve ceder ao vinho frequentemente, para que o espírito não adquira um mau hábito; todavia, de vez em quando, é oportuno da via livre à alegria e à liberdade, e deixar de lado a rígida sobriedade. (...)
Meu caro Sereno, esses são os preceitos para preservar a tua tranquilidade ou recuperá-la, e para contrapor-te aos defeitos que podem te ameaçar. Sabe, porém, que nenhum deles basta para preservar um bem tão frágil, sem defender, com os cuidados mais constantes, a nossa alma, sempre fáceis de cair.

Dicionário Filosófico

Estoicismo – Deve-se "viver conforme a natureza": sendo a natureza essencialmente o logos, essa máxima é prescrição para se viver de acordo com a razão.
Sendo a razão aquilo por meio do que o homem torna-se livre e feliz, o homem sábio não apreende o seu verdadeiro bem nos objetos externos, mas bem usando estes objetos através de uma sabedoria pela qual não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas externas.

Ataraxia – é um termo ligado às correntes filosóficas gregas do Ceticismo, Estoicismo e Epicurismo. Do grego ataraktos, imperturbado. Sinônimo para: ausência total de preocupações; paz e imperturbabilidade de espírito; ausência de ansiedade; tranquilidade e impassibilidade da alma. Segundo tais correntes, a ataraxia é possível de ser alcançada: atendendo-se aos desejos naturais; ignorando-se os desejos superficiais; eliminando-se as paixões.

Eutimia - (do grego eu = normal + timo = humor) é definido por Demócrito como um estado de equilíbrio no humor e por Sêneca como um estado de tranquilidade, um ponto de estabilidade entre o humor deprimido e o humor eufórico.
Trata-se do ponto de equilíbrio entre a distimia (humor constantemente baixo) e sua versão mais intensa, a depressão maior, quanto da hipomania (humor constantemente elevado) e sua versão mais intensa, a mania. Sendo assim, é o objetivo de tratamento de transtorno de humor (transtorno bipolar).

Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo

1 – Segundo Sêneca, como devemos viver?
                (   ) nos controlando sempre, tendo um comportamento estudado;
                (   ) descuidadamente, despojadamente;
                (   ) de forma espontânea, com simplicidade.
2 – É preciso saber alternar:
             (A) a solidão                                    (   ) para termos o desejo de ficarmos só;
             (B) estar com os outros                   (   ) porque nos fará sentir o desejo de estar com os outros.
3 – A solidão servirá de remédio do:
                (   ) tédio da solidão;
                (   ) desagrado pela multidão.
4 – Estar com os outros servirá de remédio do:
                (   ) tédio da solidão;
                (   ) desagrado pela multidão.
5 – O exemplo que Sêneca nos dá sobre a embriaguez só terá plenitude caso seja usufruída com a virtude da ____________________.
6 – O que é o estoicismo?
7 – O que significa o princípio estoico da ataraxia?

Zidane was sent off for a headbutt on Italy's Marco Materazzi

8 – Se Zidane seguisse o princípio estoico da ataraxia, ele daria a “cabeçada” em Materazzi?
                (   ) sim                                                  (   ) não
       Por quê?
9 – Perante as dificuldades e aos obstáculos da vida você seria capaz de manter o princípio ataráxico?
                (   ) sim                                                  (   ) não                                
Por quê?
10 - O que é eutimia?
11 - O que é distimia e o que pode causar?
12 - O que é hipomania e o que pode causar?
13 - O budismo pretende ensinar aos seus seguidores o desenvolvimento da capacidade em não se influenciarem com as adversidades da vida. Assim, enfatiza que "um homem verdadeiramente sábio não será arrebatado pelos oito ventos" (Nitiren Daishonin)
Quais são estes oito ventos?

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