Wellington Sversut - Bauru - Brasil

Platão - anel de giges

Porque devemos agir de modo ético?


Filosofia da Moral ou Ética
Tema: a ética (ethos)
Filósofo: Platão (428/27 – 347 a. C.)
Obra: A República

Biografia

Platão (428/27–347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

Habilidade: ler de modo filosófico textos de diferentes estruturas e registros

O HOMEM SEM SOMBRA TRAILER

Clovis de Barros Filho - Moral e Ética



Habilidade: ler textos filosóficos de modo significativo

A República

Glauco —Escuta então o que eu disse que iria tratar primeiro: qual a essência e a origem da justiça.
Dizem que uma injustiça é, por natureza um bem, e sofrê-la, um mal, mas que ser vítima de injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-la. De maneira que, quando as pessoas praticam ou sofrem injustiças umas das outras, e provam de ambas, lhes parece vantajoso, quando não podem evitar uma coisa ou alcançar a outra, chegar a um acordo mútuo, para não cometerem injustiças nem serem vítimas delas. Daí se originou o estabelecimento de leis e convenções entre elas e a designação de legal e justo para as prescrições da lei. Tal seriam a gênese e essência da justiça, que se situa a meio caminho entre o maior bem — não pagar a pena das injustiças — e o maior mal — ser incapaz de se vingar de uma injustiça. Estando a justiça colocada entre estes dois extremos, deve, não preitear-se como um bem, mas honrar-se devido à impossibilidade de praticar a injustiça. Uma vez que o que pudesse cometê-la e fosse verdadeiramente um homem nunca aceitaria a convenção de não praticar nem sofrer injustiças, pois seria loucura. Aqui tens ó Sócrates, qual é a natureza da justiça, e qual a sua origem, segundo é voz corrente.
Sentiremos melhor como os que observam a justiça o fazem contra vontade, por impossibilidade de cometerem injustiças, se imaginarmos o caso seguinte. Demos o poder de fazer o que quiser a ambos, ao homem justo e ao injusto; depois, vamos atrás deles, para vermos onde a paixão leva cada um. Pois bem! Apanhá-lo-emos, ao justo, a caminhar para a mesma meta que o injusto, devido à ambição, coisa que toda a criatura está por natureza disposta a procurar alcançar como um bem; mas, por convenção, é forçada a respeitar a igualdade. E o poder a que me refiro seria mais ou menos como o seguinte: terem a faculdade que se diz ter sido concedida ao antepassado do Lídio [Giges]. Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.
Se, portanto, houvesse dois anéis como este, e o homem justo pusesse um, e o injusto outro, não haveria ninguém, ao que parece, tão inabalável que permanecesse no caminho da justiça, e que fosse capaz de se abster dos bens alheios e de não lhes tocar, sendo-lhe dado tirar à vontade o que quisesse do mercado, entrar nas casas e unir-se a quem lhe apetecesse, matar ou libertar das algemas a quem lhe aprouvesse, e fazer tudo o mais entre os homens, como se fosse igual aos deuses. Comportando-se desta maneira, os seus atos em nada difeririam dos do outro, mas ambos levariam o mesmo caminho. E disto se poderá afirmar que é uma grande prova de que ninguém é justo por sua vontade, mas constrangido, por entender que a justiça não é um bem para si, individualmente, uma vez que, quando cada um julga que lhe é possível cometer injustiças, comete-as. Efetivamente, todos os homens acreditam que lhes é muito mais vantajoso, individualmente, a injustiça do que a justiça. E pensam a verdade, como dirá o defensor desta argumentação. Uma vez que, se alguém que se assenhoreasse de tal poder não quisesse jamais cometer injustiças, nem apropriar-se dos bens alheios, pareceria aos que disso soubessem muito desgraçados e insensatos. Contudo, haviam de elogiá-lo em presença uns dos outros, enganando-se reciprocamente, com receio de serem vítimas de alguma injustiça. Assim são, pois, estes fatos.

Dicionário Filosófico

Ética – a palavra ética é originada do grego ethos, que significa modo de ser, caráter, índole e também costume, hábito. Através do latim derivou-se a palavra moral. Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.
Epopeia da Poeira Cósmica - Fabio Brazza (editado para fins desta postagem)

O anel de Gigeso personagem dessa história, um pastor chamado Giges, encontra por acaso uma caverna onde jaz um cadáver que usava um anel. Quando Giges enfia o anel no próprio dedo, descobre que esse o torna invisível. Sem ninguém para monitorar seu comportamento, Giges passa a praticar más ações - seduz a rainha, mata o rei e assim por diante. Essa história levanta uma indagação moral: algum homem seria capaz de resistir à tentação do mal se soubesse que seus atos não seriam testemunhados?

Habilidade: elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo

1 – Qual a razão para a origem do estabelecimento das leis e das convenções?
2 – A essência da justiça se situa a meio caminho entre o maior bem e o maior mal.
a)       Qual é o maior bem?
b)       Qual é o maior mal?
3 – Porque a justiça deve honrar-se entre esses dois extremos?
4 – O homem justo só observa a justiça por que:
                (   ) tem vontade de ser justo; pode praticar a justiça com os demais
                (   ) é impossibilitado de cometer injustiças
5 – Qual foi o resultado da descoberta de Giges e seu anel?
                (   ) tornou-se um homem justo
                (   ) tomou o poder
                (   ) transformou-se em um bom pastor
6 – Se houvessem dois anéis como este, e o homem justo pusesse um, e o injusto outro, o que aconteceria aos dois?
                (   ) o justo continuaria justo e o injusto continuaria injusto
                (   ) o justo se tornaria injusto e o injusto se tornaria justo
                (   ) o justo se tornaria injusto e o injusto continuaria injusto
7 – O que é mais vantajoso ao homem:
(A)    Individualmente                             (   ) ser justo
(B)    Socialmente                                 (   ) ser injusto
8 – Se um homem tivesse o poder de Giges e não quisesse jamais cometer injustiças nem apropriar-se dos bens alheios, como pareceria aos que disso soubessem?
                (   ) o mais infeliz dos homens; o mais insensato
                (   ) o mais feliz dos homens, o mais sensato
9 – Você acredita que algum homem seria capaz de resistir à tentação do mal se soubesse que seus atos não seriam testemunhados?
10 – Debater, tomando uma posição, defendendo-a com argumentos e mudando de posição em face de argumentos mais consistentes. (PCNs)
O que você faria se ninguém pudesse te ver?
Se você tivesse o poder de desaparecer
Pra fazer o que quisesse fazer
Será que ainda assim seria quem tanto parece ser?
Pensa bem antes de responder
Se ninguém pudesse te ver
O que será que iria acontecer?
Afinal, você faz o bem porque é bom
Ou por que a moral diz que é o certo a se fazer?
Fábio Brazza

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